Artigo Jorge Portugal – Sem negros, não tem conversa!
Por Jorge Portugal – Foi Caetano Ignácio – que sempre me atualiza – quem me deu a notícia:” Vovô do Ylê será candidato a prefeito de Salvador”. Vibrei! E fazendo bem as contas vi que já são muitos os candidatos(as) negros ao posto de alcaide da capital: Vilma Reis, Olívia Santana, Sílvio Humberto numa oferta qualitativa antes nunca vista no nosso pleito municipal.
Pode ser até que essas candidaturas não consigam chegar até o fim, dentro das disputas internas partidárias.Mas é um alento e tanto elas se apresentarem em bom número e com tão bons candidatos.Mesmo que sinais já tenham vindo pela boca de um deputado federal do nosso partido hegemônico da esquerda – frise-se um parlamentar afrodescendente !- de que a questão étnica não é relevante, essas cinco candidaturas têm o condão de lembrar a essas lideranças “esquecidas” por que Salvador é a “capital negra das Américas”.
Certamente que muitas pautas federais estarão no debate aceso das campanhas municipais.Necessariamente de falará de Saúde, Educação, Segurança, porque, afinal, as pessoas residem numa cidade e não em “um país, ou um estado”.E, seguindo a reflexão de Caetano Ignácio, se esta cidade é a cidade de Salvador, como falar de Saúde/ SUS sem falar de negros, seus usuários em larga escala? Em que tipo de escola estão maciçamente os garotos e garotas negros? Na escola privada ou na escola pública, de responsabilidade da prefeitura? E segurança? Qual a cor da população dos presídios, e daqueles que morrem entre 15 e 25 anos abatidos por tiros da Polícia, das milícias e do tráfico?
Vamos parar com essa conversa acadêmica ou “escalada de jornal televisivo”, ao comunicar estatísticas trágicas na base do “ a enchente desabrigou 60 pessoas no Calabetão”. Não! A enchente desabrigou 60 pessoas de maioria negra, pobres e faveladas no Calabetão”.Precisamos acrescentar os adjetivos necessários à cara feia da realidade.Entendeu, deputado? De outro modo não floresce a luta. Dizia minha saudosa Dona Da Paz que “quem tem sua dor é que geme”.Não à toa os dois executivos- nos planos federal e estadual – que mais “gemeram com a dor do povo” foram justamente Lula da Silva e Rui Correria Costa, um retirante nordestino e um morador de encosta na Liberdade.
Ao contrário, deputado, nunca foi tão relevante a contribuição dos negros, a participação dos negros, o voto dos negros nas eleições 2020, nesta “capital das desigualdades raciais das Américas”.Ser apenas “de esquerda não basta”; tem que saber que nossa pele é linguagem e a coisa mais certa tem que ser a coisa mais justa.Portanto, no mês de Tempo, da Revolta dos Búzios, que venham Vovô, Vilma, Olívia, Sílvio e quem mais chegar.