Fabinho e sua ótica da esperança – Por Artabam Éden*
O início da década de noventa a poeira da queda do muro de Berlim ainda pairava no ar, enquanto a Alemanha dava início a sua sonhada unificação. Por aqui a juventude de cara pintada invadia as ruas para derrubar o presidente Fernando Collor e escrevia nas noites a história da música com a segunda edição do Rock in Rio.
Na AABB de Itabuna o campeonato soçaite vivia seus melhores dias com a bola desfilando nas gramas verdes de verão. Foi lá que aquela figura destemida entrou em cartaz, numa competição disputadíssima e com um nível técnico de encher os olhos do torcedor mais exigente. Era grande a expectativa quando entrava em campo a esquadra da OAB/Itacolor. Apesar da bela equipe em campo os olhares se voltavam para o banco de reservas a espera daquela figura de pouca estatura, um sorriso iluminado e muita ousadia nas pernas. A sua inquietude era visível: respiração ofegante, joelhos naquele movimento lateral sincronizado, olhar de águia focado na partida, como quem desenha em quatro cores um mapa dos melhores atalhos para o gol.
O jogo caminhava lento, com poucos espaços, truncado pelo equilíbrio, sem graça pela falta de inspiração. Até que o voz da salvação convoca a arma secreta.
– Chucky, voa aqui – , exclamava o treinador.
As pernas serelepes parecia sorrir de alegria e vinham saltitante a caminho do professor. Ouvia por respeito, pois ele já tinha traçado seu plano santo. Era um verdadeiro incendiário. Sua especialidade era colocar fogo na partida. Apertou os cadarços da chuteira com as mãos trêmulas pela ansiedade, suspendeu os meiões como quem veste uma armadura e lá se foi ele cumprir o seu destino. Aguardou a saída do companheiro e entrou em campo com pé direito com uma pisada firme e supersticiosa. Na primeira disputa o filho do vento antecipou a jogada e colocou a bola na frente da defesa: uma falta dura foi último recurso. Foi o suficiente para esquentar os ânimos, acirrar a disputa e levantar a torcida. Daí pra frente foram assistências, contra-ataques rápidos, gols, muita ousadia para decretar a vitória de seu time e transformá-lo no destaque da competição daquele ano.
O nosso Chucky mais tarde se tornaria Fabinho do Nazoera, mas sua essência seria companheira de vida. O entusiasmo e a alegria seriam virtudes de toda sua caminhada. Descobriria que poderia trabalhar e se divertir ao mesmo tempo, eternizando com seu registro e talento os melhores momentos da vida. A sua paixão pela noite e sua vocação pela fotografia marcariam seu nome na história da mídia digital itabunense. Onde a festa se manifestasse lá estava ele com sua objetiva, registrando os sorrisos e as lágrimas de alegria. A sua ótica tinha foco na esperança e na sua maleta, os sonhos se misturavam com as lentes e câmeras. Por onde passou plantou amizades com as sementes da sinceridade, dividiu sua paixão pela vida, compartilhou seu profissionalismo, emprestou seu sorriso convincente.
Sábado, dia 26 de agosto, de forma inesperada, ele se foi com a mesma velocidade que atuava em campo, deixando sua história incompleta. Foi como um raio que corta a noite, com a mesma intensidade que marcou a sua história. Quem conviveu com Fabinho certamente enfrenta hoje um sentimento de profunda tristeza e carrega um vazio que nos inspira a refletir sobre a vida.
*Artabam Eden é administrador, esportista e cronista.