A chegada de Nelson Rodrigues à Broadway e a Hollywood

Principal nome da dramaturgia brasileira, Nelson Rodrigues está chegando aos Estados Unidos: nos palcos, no cinema e na TV. A JuVee Productions, produtora da atriz vencedora do Oscar Viola Davis, anunciou no último dia 8 que levaria a peça “O beijo no asfalto” para uma montagem na Broadway, além de duas adaptações audiovisuais, uma no cinema e uma na televisão.

“Trazer a obra de Nelson Rodrigues para o mercado dos EUA é uma grande honra e responsabilidade”, disse ao site Deadline Katie Mota, vice-presidente da Wise Entertainment, empresa que vai co-produzir os projetos ao lado da JuVee Productions. “Passamos muito tempo identificando quais de seus trabalhos seriam os mais relevantes e poderosos para os dias de hoje”, acrescentou.

A peça “O beijo no asfalto” relata a morte de um homem desconhecido, que é atropelado por um ônibus numa avenida movimentada. Agonizando no asfalto, ele pede um beijo a um bancário, Arandir, que está no local. O pedido é atendido, o gesto logo se torna manchete na imprensa sensacionalista e a polícia carioca passa a jogar com a possibilidade de que o atropelamento tenha sido um assassinato, não um acidente. Com essa premissa, Rodrigues discute temas como a ética jornalística, a violência policial, a solidão e o moralismo da classe média-baixa, que passa a ver um escândalo no ato do beijo.

Convenções sociais – Sérgio Ferreira, mestre em teoria da literatura pela PUC-RS, afirmou em artigo publicado pelo Centro Universitário Cenecista de Osório que o texto é “é um retrato da baixa classe média carioca que, numa trama original e nada convencional, capta o interesse do leitor/espectador com provocações que acontecem desde a primeira cena” e que o ponto central da peça é mostrar “a destruição do indivíduo pela máquina social corrupta”.

Outro tema presente em “O beijo no asfalto” é a heteronormatividade e a repressão interna da homossexualidade através do ato de Arandir para com o morto e a repercussão do caso na imprensa e na família do protagonista. Gustavo Moreira Alves, mestre em artes cênicas pela Universidade Federal de Ouro Preto, afirma em sua tese de mestrado que o texto “retrata a organização social que impede a exteriorização da pulsão homoerótica, mostrando como o inconsciente lida com isso de forma devastadora”.

A peça foi escrita em apenas 21 dias, a pedido da atriz Fernanda Montenegro, uma das fundadoras da companhia Teatro dos Sete. Para a trama, Rodrigues se inspirou na história da morte do jornalista Pereira Rêgo, à época repórter do jornal O Globo. Ao ser atropelado por um ônibus, Rêgo pediu um beijo para uma jovem que estava no local.

Com informações do Nexo Jornal

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